Arquivo de etiquetas: mário

DE MÁRIO DE CARVALHO E OUTROS DEUSES

“Brilha o céu, tarda a noite, o tempo é lerdo, a vida baça, o gesto flácido. debaixo de sombras irisadas, leio e releio os meus livros, passeio, rememoro, devaneio, pasmo, bocejo, dormito,  deixo-me envelhecer. Não consigo comprazer-me desta mediocridade dourada, pese o convite e o consolo do poeta que a acolheu. Também a mim, como ao Orador, amarga o ócio, quando o negócio foi proibido. Os dias arrastam-se, Marco Aurélio viveu, Cómodo impera, passei o que passei, peno longe, como ser feliz?”

lerdo |ê ou é| adj.

1. Pouco activo; tardio nos movimentos.
2. [Popular]  Bruto, estúpido.
baço

s. m.
1. Órgão glandular situado no hipocôndrio esquerdo.
adj.
2. Trigueiro, pálido.
3. Empanado.
4. Sem o brilho (que lhe é próprio).
5. Mate.

Deste modo começa o romance que Mário de Carvalho escreveu no ano 1994 e eu li no 2011.

O escritor afirma na primeira página que não é um romance histórico, imagino que porque nele fala de más muito actuais, hoje, ontem e sempre:  a corrupção do poder e a  sua moleza, a ascensão social ao costo dum perigoso populismo figurado no liberto…, o padeiro, as ambições pessoais sobre o bem comum, em suma, esses valores tão eternos como são a ignorância, a suspicácia, a mesquindade, a ignominia .

Mas documentada está, com certeza, histórico é “historísissimo” pela recreação tão minuciosa da época das formas de vida, das práticas religiosas, mais concretamente da aparição da secta monoteísta piedosa mas intransigente,  que se fazem chamar Cristianos, do Império no princípio do fim, como agora, é pá!.

O protagonista o duúnviro Lúcio Valério “Aos 213 anos da era de Augusto, 928 da fundação da Urbe, sob o império de Marco Aurélio Antonino, era eu duúnviro em Tarcisis…”representa, acho eu, os valores das virtudes romanas, no meio dum caos que o vai afogando  e deixando só, mesmo o seu centurião, que ao lado da sua mulher Mara,  era a sua única lealdade inquebrantável, até ele o trai ( que c…com o recto que parecia!). até é traído por sim próprio na atracção que sente por a fanática cristiana, filha do seu amigo Canaber,  mas olha, não há sexo! nisso sim que se alonga dos muitos romances pseudo-históricos que querem vender muito. Enfim, se querem lê-lo o empresto, ainda que não sei se vai vir algum inspector da SGAE a pedir-me algum canon!

Se gostam deste escritor poder ler outros livros com nomes inspirados  como O Homem que Engoliu a Lua; Fantasia para dois coronéis e uma piscina;Apuros de um Pessimista em Fuga; Se Perguntarem por Mim, Não Estou; Era Bom que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto; Casos do Beco das Sardinheiras e há mais!

Isto é uma reportagem com entrevista incluída do autor no programa “Ler Mais, Ler Melhor”