Momento sensível e emotivo um dia de chuva numa aula qualquer


Terças e Quintas de 18:00 à 19:30

As terças e quintas sob um búzio
(Que é uma aula prefabricada)
De carteiras para pigmeus
As tardes de terças e quintas
Abandono-me sem remédio

Amo
No calor húmido dum liso inverno
O som longínquo da voz da Sêtora
Sobre o estrado  na clareira
do ano lectivo  dos mil e tantos
Em verão
Cochilam as cigarras da avenida

As terças e quintas são sagradas
De passos apressados no corredor
A canção de vocais diversas
(Indulgente) – “Calem… meninos …”
Burburinhos, abafadas conversas
Hora e meia a salvo de ciladas pois
Entre as empedradas ruas estreitas
Ando ainda espantada, sem inclusão
Na selva infinita de minha aldeia

Amo
Os sinos da chuva no tecto
Num reino de verbos evocantes
Rumor dos colegas a ler o exercício
Pureza do espaço detido
Por um bocado eterno e vago
Adjectivos precisos, exactos pronomes
E a precisa pronúncia. O sotaque
Só isso

Sussurros, os  risos nervosos
(a meia voz)“…Meninos faladores…”
No Convento Sem Lágrimas
Da Virgem do Conhecimento
A música celestial das Palavras
Sem mortos nem sofrimento

Amo
As tardes inúteis de terças e quintas
O silêncio das canecas ao escrever o ditado
O cheiro do giz que sempre me salva
O horizonte do quadro.

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