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E Como Ontem Foi o Dia Mundial da Poesia…

…Hoje é um dia da poesia normal, íntimo, pessoal, sem razão aparente nem fastos, e como seguem a passar as horas pois… com todos vocês… um deus da poesia, um grandioso além de sublime deus de muitas cabeças, o Dom Sebastião da palavra em verso…por sempre Pessoa-ele-mesmo, Campos, Caeiro, Soares, Reis, e muitos outros, obrigada por a minha passagem de tantas horas com todos vocês.

A Operação Mia-Lusa

Estimados lusodoídos:

O motivo da presente é oferecer-lhes o áudio da primeira hora da apresentação dos últimos livros publicados pelos grandes-extraordinários-sublimes-além-de-maravilhosos, os deuses vivos da literatura em língua portuguesa:  Mia Couto com “As Confissões da Leoa” e  J.E. Agualusa com  “Teoria Geral do Esquecimento”.

Dita apresentação decorreu o dia 10-5-2012 em Faro no Pátio de Letras, (se não conhecem esta livraria, com bar e esplanada!, não duvidem em visitá-la).

Se não a têm toda, que foi de mais de hora e média, isto foi culpa do letargo dessa noite cálida que fez que os integrantes da Operação Mia-lusa tenham demorado mais da conta no jantar num alpendre qualquer, portanto quando voltámos já o Pátio estava “recheado” de amantes amadores de ambos dois escritores, portanto a câmara de vídeo ficou posta de qualquer maneira longe da operária que é quem subscreve, sinto muito não poder dar-lhes a prendinha de toda a conversa, as imagens, que adoecem da mesma falha, ficam para outro dia.

Até já

Clube de Leitura “Livros Mexidos”- 4º Encontro de 2012

Por cortesia de nosso lusomaníaco “o Ramão” oferecemos-lhes esta interessante informação do clube de Leitura “Livros mexidos”. Acrescentamos também as webs dos organizadores que realizam uma louvável lavor no Algarve em favor da cultura,  a natureza e o património.
“Porque através da partilha das impressões que nos ficam da leitura dos livros em que mexemos se podem sempre esboçar outros mundos e inventar novas sensações, a Biblioteca Municipal Vicente Campinas (VRSA), o Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela / CMVRSA e a ADRIP – Associação de Defesa, Reabilitação, Investigação e Promoção do Património Natural e Cultural de Cacela, organizam dia 26 de Abril, pelas 18h00, na Biblioteca Municipal Vicente Campinas (VRSA) um novo encontro do Clube de Leitura “Livros mexidos”.

Começámos por partilhar os mundos que visitámos nos livros, seguimos depois na descoberta da literatura a oriente e de autores contemporâneos. Após uma breve incursão nos contos de Natal, iniciamos este novo ano percorrendo autores de expressão portuguesa.


Para Abril escolhemos José Eduardo Agualusa.
Leia um dos seus livros, junte-se a este grupo informal de pessoas que se unem no gosto pela literatura e venha partilhar connosco as suas leituras.
Apareça!”

DE MÁRIO DE CARVALHO E OUTROS DEUSES

“Brilha o céu, tarda a noite, o tempo é lerdo, a vida baça, o gesto flácido. debaixo de sombras irisadas, leio e releio os meus livros, passeio, rememoro, devaneio, pasmo, bocejo, dormito,  deixo-me envelhecer. Não consigo comprazer-me desta mediocridade dourada, pese o convite e o consolo do poeta que a acolheu. Também a mim, como ao Orador, amarga o ócio, quando o negócio foi proibido. Os dias arrastam-se, Marco Aurélio viveu, Cómodo impera, passei o que passei, peno longe, como ser feliz?”

lerdo |ê ou é| adj.

1. Pouco activo; tardio nos movimentos.
2. [Popular]  Bruto, estúpido.
baço

s. m.
1. Órgão glandular situado no hipocôndrio esquerdo.
adj.
2. Trigueiro, pálido.
3. Empanado.
4. Sem o brilho (que lhe é próprio).
5. Mate.

Deste modo começa o romance que Mário de Carvalho escreveu no ano 1994 e eu li no 2011.

O escritor afirma na primeira página que não é um romance histórico, imagino que porque nele fala de más muito actuais, hoje, ontem e sempre:  a corrupção do poder e a  sua moleza, a ascensão social ao costo dum perigoso populismo figurado no liberto…, o padeiro, as ambições pessoais sobre o bem comum, em suma, esses valores tão eternos como são a ignorância, a suspicácia, a mesquindade, a ignominia .

Mas documentada está, com certeza, histórico é “historísissimo” pela recreação tão minuciosa da época das formas de vida, das práticas religiosas, mais concretamente da aparição da secta monoteísta piedosa mas intransigente,  que se fazem chamar Cristianos, do Império no princípio do fim, como agora, é pá!.

O protagonista o duúnviro Lúcio Valério “Aos 213 anos da era de Augusto, 928 da fundação da Urbe, sob o império de Marco Aurélio Antonino, era eu duúnviro em Tarcisis…”representa, acho eu, os valores das virtudes romanas, no meio dum caos que o vai afogando  e deixando só, mesmo o seu centurião, que ao lado da sua mulher Mara,  era a sua única lealdade inquebrantável, até ele o trai ( que c…com o recto que parecia!). até é traído por sim próprio na atracção que sente por a fanática cristiana, filha do seu amigo Canaber,  mas olha, não há sexo! nisso sim que se alonga dos muitos romances pseudo-históricos que querem vender muito. Enfim, se querem lê-lo o empresto, ainda que não sei se vai vir algum inspector da SGAE a pedir-me algum canon!

Se gostam deste escritor poder ler outros livros com nomes inspirados  como O Homem que Engoliu a Lua; Fantasia para dois coronéis e uma piscina;Apuros de um Pessimista em Fuga; Se Perguntarem por Mim, Não Estou; Era Bom que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto; Casos do Beco das Sardinheiras e há mais!

Isto é uma reportagem com entrevista incluída do autor no programa “Ler Mais, Ler Melhor”

No Não-Aniversário do Nascimento e Morte de Mário- Henrique Leiria

Hoje, que se cumprem (…nasceu em 1923 e morreu a 9 de Janeiro de 1980)…pois…não sei quantos anos, do nascimento e  do falecimento do  surrealista heterodoxo, heterogéneo além de herético, escritor Mário-Henrique Leiria, nesta data tão pouco relevante, lembro-me dele e dos seus Contos do Gin-tonic. Tenho a 6ªedição de Estampa cuja capa, pronto, é um gin-tónico, tá bem, mas o pouco esmero na maquetação e na tipografia,  a escassa qualidade da impressão não deixaram de surpreender-me, porém, gostei imenso dos contos deste escritor de quem só tinha ouvido falar e que não tinha lido, e sim, foi um golo de gin-tónico perfeito.

Aqui podem ver o grande Mário Viegas a recitar um dos poemas dele.

A seguir, os deixo cá a “Cegarrega para Crianças”  incluida nos Contos do Gin- Tonic, e com certeza, se o síndrome de abstinecia ou alguma doença de coração permitem-lhes, bebam-se um gin-tónico (que seja bom o gin e o tónico!), com limão ou lima e muito gelo, enquanto lêem o livro.

CEGARREGA PARA CRIANÇAS

A veja dormindo
o rato roendo
a Velha zumbindo
o rato correndo
a Velha rosnando
o rato rapando
a Velha acordando
o rato calando
a Velha em sentido
o rato escondido
a Velha marchando
o rato mirando
a Velha dizendo
o rato escutando
a Velha ordenando
o rato fazendo
a Velha correndo
o rato fugindo
a Velha caindo
o rato parando
a Velha olhando
o rato esperando
a Velha tremendo
o rato avançando
a Velha gritando
o rato comendo
 
Assinado: A Cavala Assassina

Visão de Clarice Lispector


Clarice,
veio de um mistério, partiu para outro.

Ficamos sem saber a essência do- mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.

Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,
onde a palavra parece encontrar
sua razão de ser, e retratar o homem.

O que Clarice disse, o que Clarice
viveu por nós em forma de história
em forma de sonho de história
em forma de sonho de sonho de história
(no meio havia uma barata
ou um anjo?)
não sabemos repetir nem inventar.
São coisas, são jóias particulares de Clarice
que usamos de empréstimo, ela dona de tudo.

Clarice não foi um lugar-comum,
carteira de identidade, retrato.
De Chirico a pintou? Pois sim.

O mais puro retrato de Clarice
só se pode encontrá-lo atrás da nuvem
que o avião cortou, não se percebe mais.

De Clarice guardamos gestos. Gestos,
tentativas de Clarice sair de Clarice
para ser igual a nós todos
em cortesia, cuidados, providências.
Clarice não saiu, mesmo sorrindo.
Dentro dela
o que havia de salões, escadarias,
tetos fosforescentes, longas estepes,
zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,
formava um país, o país onde Clarice
vivia, só e ardente, construindo fábulas.

Não podíamos reter Clarice em nosso chão
salpicado de compromissos. Os papéis,
os cumprimentos falavam em agora,
edições, possíveis coquetéis
à beira do abismo.
Levitando acima do abismo Clarice riscava
um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.

Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde.
Mais tarde, um dia… saberemos amar Clarice.

Carlos Drummond de Andrade