Minha Vida como um Cogumelo II parte
Hoje vi as flores violáceas da lavanda; as mais claras e resolutas do cebolinho; as da sálvia que há tão pouco plantei. Rebentando no alegrete: açucenas brancas
Hoje ontem e anteontem vi: tagarelar uns passarinhos bêbados; hibiscos amarelos; o tomilho que ´tava teso; coentro fresco, volúveis vermelhas em sangue acesas
Hoje vi o cão descarnado que se ralha; a garrafa de Sagres adormecida na areia; um gafanhoto monótono que espreita; formigas e formigas a toda a pressa
Hoje novamente como sempre por este escaninho omitido o tempo não passou, ou se passou…que pouco importou!
P.S
A cegonha passeia pela areia a comer o pão que todas as manhãs joga fora a velha. Cheira a peixe, a fogareiro, a maré, ao gasóleo do tractor, a sapal, a lama, a letargo. O helicóptero invasor espreita fita vigia ronda de manhã à noite ainda não sei o quê. Quando o vento é de terra às vezes cheira a merda
Deste modo chegou a primavera para uma tola solene que estava à espera.