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REDACÇÃO DA SEMANA: “O MEU DIA A DIA…COMO UM COGUMELO” ”

CRÓNICAS-ANA-CRÓNICAS

…Uma mais do que Duvidosa Versão do Filme “Feitiço do Tempo” (O Dia da Marmota)
Não Perca as Surprendentes Revelações duma Cavala!

Ontem, a lua cheia encheu o quintal duma luz recoberta de efeito Purkinje num céu despejado com estrelas que lutavam sem sucesso por ter o seu lugar num firmamento limpo, claro, quase diurno, no silêncio assustador de todas as noites.

Hoje, a velhota do cabelo de prata fina, que gorjeia-chilreia de aqui ali com essa voz de queixa doce, esvoaça baixo e sai da loja de quatro coisinhas, alguns fios e uns poucos baldes, o nome da mercearia é parisino e os preços também.

A vizinha das árvores ameaçadoras aproveita para palrar, no seu passeio das manhãs entre as folhas moribundas do seu eirado, e fala disto e daquilo sem alçar a voz, num tono solene quase oficial, as novidades do dia comunicadas com frialdade burocrática.

Saudações, a inquietação do vento, uma carrinha que passa.

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Gaivotas gigantes esganiçam-se no longínquo, a seguir, apertam-se e esganiçam-se no próximo. Alguma deixa uma podre lembrança branca e verde no cimento irregular deste omnipresente-assíduo-persistente quintal, e afastam-se em agudas conversas porque elas não calam até a noite, são parte da cessação. Como são os risos de pássaro da Ángela, -bom dia, minha senhora, -boa tarde, moça.

A sogra do Anzol é um anjo velhoto em andarilho desde onde varre a rua, estende a roupa ou, de repente, enleva-se com a brisa do Poente frio das tardes soturnas de inverno, e voa e ri como um pardal e os seus cabelos são dum branco transparente e os risos da sua boca desdentada iluminam o acaso onde treme um sol que entre tanto mar parece anão, e desaparecem no horizonte ambos dois.

Amanhã, o retrato exacto de ontem, de hoje e de anteontem passará pela janela da cozinha enquanto limpo a mesma louça de todos os dias idênticos, numa ordem quase pavorosa.

321 Palavras

Da Selecta Colecção de “As Mais Atrozes Crónicas do S.XXII”

Edições Esquecíveis. Ínsula Baratária  S.A, 2.012

 


 
 

Fonte da Benêmola

O Percurso que Fizemos o Passado Dia 6 de Dezembro de 2011

Reunimo-nos um grupo de onze pessoas, coordenadas por quem subscreve, J . Ramón Vargas.

Em princípio éramos da turma de 4º ano de Português da Escola de Línguas da U.S, “sêtora” e Cia incluídos, mas na sua maior parte a turma procedia da seita”Círculo de Confusão” por quem fui abduzido recentemente.

Saímos a a pé desde o cartaz do início do percurso “Fonte da Benêmola” na freguesia de Querença (é recomendável a visita a esta pequena aldeia), no conselho de Loulé.

Hei-nos num espaço natural classificado como local de interesse do mesmo nome e o roteiro consta de 4,5 km.

O percurso transcorre pela beira dum rio no qual podemos observar, além da vegetação mediterrânea, a vegetação própria da ribeira: a mata “em Galeria”.

Rapidamente encontrámos a primeira surpresa, uma folha carnosa com frutas no chão: groselhas, amoras silvestres imensas, arandos/mirtilos, etc e umas moedas. Atónitos prosseguimos com o intercâmbio. Nunca tinha visto isto na península na minha expêriencia em percursos.

A zona é abundante em fontes e veneros e algumas caem sobre o mesmo rio. Como zona própria do Barrocal Algarvio, de natureza caliça, tem roca que costuma armazenar água que emerge no contacto com rocas não permeáveis.

Do caminho partia outro percurso, também circular, “Roteiro das 7 Fontes” que deixamos para outra vez.

Depois dum piquenique, numa área recreativa disposta “ao efeito” que não descrevo para não dar inveja a quem leia esta descrição, continuamos a caminhada, a perder-nos um bocadinho num caminho inundável pelas águas, não devido à imperícia do guia, mas por o bom ânimo desportivo dos caminhantes.

Atravessámos o rio, não sem dificuldade, por umas plataformas dispostas no leito, sem chegar a ser uma ponte.

Já na outra beira, reparámos numa nora em bom estado, para o rego das hortas agora abandonadas, que povoavam os “socalcos” das margens.

Quando o caminho se faz mais largo, chegámos à casa dum artesão cesteiro e outros “requintes” com a cana. Não esqueçam deixar algo de dinheiro nesta actividade.

Já o caminho faz-se carril largo, apto para carros e mais longe do leito, podendo observar um sobreiral que voltou a brotar depois do passo dum incêndio.

Terminámos nosso caminho circular, atravessando um rio por uma ponte da estrada na que teremos feito nossos últimos metros pelo asfalto já com mais cuidado pelo tráfego.

Saudações, espero que lhes tenha gostado.

Assinado: O Ramão. Guia Ambiental da Península Ibérica

N.deA.”folhado” é um arbusto de nome latino Viburnum tinus, não é nenhuma palavra de línguas irmãs.